Quando o assunto é o tráfico e consumo de drogas ilícitas, as opiniões geralmente são rasas como a água num pires. A questão não é simples, pelo contrário, sua complexidade é que dificulta que o problema seja resolvido com as receitas aparentemente miraculosas.
A tendência é buscar uma solução através da aplicação rigorosa da lei, mas somente dando atenção ao Título IV da Lei 11.343/2006, que trata da repressão à produção e ao tráfico ilícito de entorpecentes, fazendo letra morta os dispositivos do mesmo texto legal que ditam o sistema nacional de políticas públicas sobre drogas; olvidando o que é determinado como atividades de prevenção do uso indevido, atenção e reinserção social de usuários e dependentes de drogas.
A maioria das opiniões sobre o assunto partem de pessoas que jamais leram a lei, ou seja, deitam cátedra sobre o que desconhecem.
Está demonstrado que a repressão pura e simples não tem sido capaz de reduzir índices de comércio e consumo de drogas, mas, ao contrário, colabora para o caos prisional (a maioria dos presos está de alguma forma ligada ao tráfico de drogas), com a agravante de que é nos presídios que estão localizados os quartéis generais do tráfico e onde são recrutados novos "soldados".
O usuário que também trafica, geralmente é insignificante diante do volume do comércio ilícito, quando preso, é aliciado compulsoriamente a integrar uma facção que lhe garantirá a sobrevivência no cárcere, é isto, ou a morte. Não há escolha.
São incalculáveis os recursos gerados pelo tráfico. Esses recursos são todos eles submetidos à lavagem através de empresas de fachada, contas bancárias aqui e no Exterior, sinais ostensivos de riqueza incompatível com os ganhos declarados. Como estes crimes financeiros são investigados?
É mais fácil trabalhar com dados estatísticos, prender o indivíduo que está ali na esquina comerciando míseras gramas, afinal ele está (onde?) geralmente num ponto de tráfico conhecido da polícia, uma espécie de pesqueiro, é só ir ali que algum cairá na rede.
Nos meios mais "chiques" não são comuns apreensões de drogas mais sofisticadas e muito populares, como cocaína, ecstasy e outras, mas é sabido, tanto quanto o número de horas que a terra leva para fazer um movimento completo de rotação, que não é só no pé da pirâmide social que a droga viceja.
Torço para que a intervenção no Rio de Janeiro possa dar resultados. Todavia penso que se a repressão for feita, como está parecendo, dentro de uma lógica bélica de eliminação dos inimigos, sem atividades de inteligência e investigação, estará sendo atacado o efeito, e novamente sendo esquecidas as causas. O resultado atingirá majoritáriamente o traficante e/ou consumidor "pé de chinelo", mas os resultados financeiros continuarão a financiar iates, mansões e até mesmo candidaturas, sem contar festas onde as "carreirinhas" são servidas em bandejas de prata por garçons de luvas brancas.
Não sejamos ingênuos, tudo se encaminha para um grande reality show, dentro da política de pão e circo. Aliás, já vimos este teatro com ocupações anteriores que tiveram o sucesso de um furo n'água.
Tomara que eu esteja enganado.